Versão: 1.0 –
Data: 18-06-2011
TRANSCRIÇÃO:
(do «Jornal da M.P.», Nova Série, Ano
I, N.º 5, 24-12-1942, Página 7)
Trouxemos
lenha e toda amontoámos
a meio do Acampamento.
Aí cavámos
um sulco circular,
delimitando
uma mesa redonda e uma
bancada.
Da mesa sugira chama
ateada
E, em volta, a Mocidade
está cantando…
É noite feita. A chama
a crepitar
E um silêncio se faz no
Acampamento…
À volta desse lume, num
saudar,
Está pensamento moço…
Pensamento!
As árvores murmuram
meigamente,
uma canção que o vento
magicou…
E, no Céu, muita
estrela refulgente
É alto ideal, qu’inda
não se alcançou!
Não poderei esquecer,
por mais que viva,
os reflexos da chama
bailadeira
No olhar feliz da
Mocidade altiva,
Rosto viril, que o lume
avermelhava,
– ambiente de mística
sem par! –
ao alto o Coração, que
procurava
ser moço hoje… e pela
vida inteira!
E a chama sempre,
sempre a crepitar
Fez-nos pensar… pensar…
Em que pensámos?
Que a Mocidade é Ideal
Sublime,
Porque resume e
subtiliza a Esperança
do Mundo que ideámos!
Porque ela em nós
imprime
o dom da Confiança,
da confiança em nós, no
que podemos
na Certeza que sempre
venceremos!
Pensámos que é preciso
compreender!
Sentimos um impulso pr’a
melhor!
Pensámos que é preciso
saber Querer!
Sentimos Fé num
Portugal Maior!
A chama, a crepitar, ia
aumentando
e as almas também! Já
não cabiam
dentro de nós, e saíam
cantando,
e todo o campo… e todo
o Mundo enchiam…
Pensámos Mocidade, e,
olhando a flama,
Sentimos nela a vida
que nos chama,
vida mais alta, plena
de ideais,
não de quimeras, de
utopias loucas,
mas princípios sãos,
dos imortais,
que se resumem em palavras
poucas:
Deus, Pátria e Família,
a trilogia santa
do mais alto ideal que
Portugal levanta!
… … … … … … … … … … … …
… … … … … … … … …
Na Chama vimos nós a
própria Vida,
feixe dessoutros feixes
imortais,
nas almas, outra
lavareda erguida,
que não se extinguirá
jamais… jamais!
… e a chama sempre,
sempre a crepitar!
Pensámos e pensamos
Mocidade,
no Belo que na Cruz há
a encontrar
e no Bem porque anseia
a Mocidade!
… … … … … … … … … … … …
… … … … … … … … …
Na escuridão da noite,
o lumaréu
erguia para o Céu,
línguas de fogo, agora
suplicantes…
As árvores pareciam uns
gigantes!
Barracas brancas – : «almas
do outro mundo!»
Aos cantares sucedera
um silêncio profundo…
No remanso da noite
adormecida,
tinha-se ali o mundo e
seus terrores,
e a chama fraquinha,
empobrecida,
tal como as juventudes
que passaram,
gemendo mágoas,
lastimando dores,
sem memória deixar aos
que ficaram!...
… … … … … … … … … … … …
… … … … … … … … …
Quando a chama se
erguia, ardente e forte,
simbolizava a vida idealizada,
a Mocidade que não teme
a sorte,
a Mocidade que não teme
nada!
A Nossa! Era a Chama,
ao alto erguida,
num complexo de ideais
a renascer!
Ideais? Ideal da
própria vida,
iluminando o nosso Alvorecer!
… … … … … … … … … … … …
… … … … … … … … …
Ao dealbar do Dia
A chama se apagara,
Mas, nas almas, existia
outro lume que vingara,
que crepita, tendo algo
de Mistério,
anseio de Maior Bem
para a humanidade,
erguido em honra de
Portugal-Império,
chama da nossa própria
Mocidade!
Poema de EUGÉNIO JOSÉ ASCENSÃO
RIBEIRO ROSA,
do Centro Universitário de Lisboa da
M.P.
Mais tarde médico e Comissário
Nacional Adjunto
Fotografia: Cortesia do GUIÃO –
Centro de Estudos Portugueses