Versão: 1.0 –
Data: 04-06-2011
I – NOTAS EXPLICATIVAS:
1 – A Quina era a célula base de todas as actividades da
Mocidade. Além do enquadramento nas actividades gerais, havia quinas para quase todo o tipo de especialidades e funções.
2 – Apenas como referência, ela era
constituída por seis filiados, mas nada a impedia de começar por dois ou três e
chegar até aos oito ou nove, porque ela era essencialmente um grupo de amigos –
um grupo de vontades –, com um objectivo bem definido.
3 – Imaginar uma quina, rigidamente,
nos seus seis filiados, é talvez uma atitude um pouco redutora, porque ela sempre
foi bastante mais que uma simples peça de um grande puzzle constituído por
falanges, bandeiras, grupos e castelos, em desfile simétrico e cadenciado, no Dia da Mocidade. Algo, no entanto, que entendido na sua devida proporção, também
podia ser interessante. E a prova disso são as fotografias de todas as épocas
em que vemos milhares e milhares de pessoas ao longo dos passeios por aonde iriam passar
os seus filhos e netos.
4 – No princípio de cada ano lectivo,
em muito centros, especialmente aqueles com efectivos de centenas ou até mais
de um milhar de filiados, por exemplo, escolas técnicas elementares e liceus, procurava-se
fazer coincidir os castelos com as turmas de alunos, já existentes. O método
tinha vantagens que assentavam na simplicidade. Mas não dispensava a cuidadosa
organização da quina. E era aqui que intervinha a importante figura do
chefe-de-quina, pois era ele que escolhia os seus rapazes, os instruía, e os
liderava, com a ajuda do comandante-de-castelo.
5 – Nos centros do ensino técnico
complementar: escolas industriais e comerciais; o efectivo era bastante mais
reduzido. Os voluntários iam aparecendo aos poucos e as quinas constituíam-se
ao mesmo ritmo. Crescendo e desdobrando. Crescendo e voltando a desdobrar-se,
especialmente quando um comandante-de-castelo era chamado a enfrentar o seu
maior desafio: assumir sozinho o comando de um centro, totalmente
desorganizado, e a meio do ano. Mas disso falaremos noutro local.
6 – A vivência de uma quina de actividades gerais assentava em quatro
vertentes, a saber: a amizade e coesão entre camaradas; as actividades de campo;
as actividades culturais e; as actividades gimnodesportivas. O livro de
quina era o repositório de tudo o que acontecia de significativo.
7 – Mas era no seu trabalho de
conjunto, semana após semana, que se iam a pouco e pouco revelando as vocações
e os possíveis contributos para o universo mais alargado do castelo, do grupo-de-castelos,
e do próprio Centro.
8 – Nas actividades de campo,
começava, durante o inverno, por: aprender a montar, desmontar, arrumar e
transportar uma tenda canadiana e o trem de cozinha; por confeccionar umas pequenas refeições, e
nessa época não havia a infinidade de «enlatados» dos tempos actuais; e aprendendo
um pequeno mundo de outros conhecimentos, indispensáveis para quem vai viver no campo.
O nosso campismo tinha propósitos especiais – educativos –, não era apenas uma
forma económica de conseguir um alojamento.
9 – Aparecia depois a oportunidade de, em grupo, participar
numa «prova de orientação» com a ajuda da carta topográfica, da bússola, da régua
de milésimos, para calcular as distâncias, e de pequenos esboços resultantes de «levantamentos» feitos por outras quinas. Ou então deixar uma pista marcada, com
sinais mais ou menos convencionais, para a quina ou quinas que se lhe seguissem. As provas nocturnas eram especialmente apreciadas, por exigirem bastante mais atenção, e a pista ser marcada (balizada) com pequenos pedaços de gaze branca.
10 – Acampar, por exemplo, para guarnecendo
um posto numa cadeia de transmissões, em homográfico ou morse, com bandeirolas ou lanternas de sinais, e que tanto podia ter 100 ou 200 metros,
como um quilómetro ou três. Tantos quantos fossem necessários para levar as
mensagens da sua origem ao destino, ou das suas origens aos seus destinos,
se várias cadeias se cruzassem ou entroncassem. Geralmente a distância entre postos não excedia os 100 metros e a dupla de serviço era designada por sinaleiro e coadjuvante (o que anotava ou ditava as mensagens).
11 – As actividades culturais
mais quotidianas, para a quina de actividades gerais de filiados infantes e vanguardistas resumiam-se
em dois grandes grupos de tarefas (contributos): para o «jornal de parede» ou o
«jornal de árvore», e para a «chama da mocidade».
12 – Alguém sempre conseguia fazer
uma «redacção» mais bonitinha, para o jornal, depois de sugeridos vários temas pelos seus camaradas.
Hoje procura-se informação na Internet, naquele tempo era apenas nos livros e em
jornais ilustrados, mas sempre se encontrava. Depois era o outro que tinha uma
caligrafia menos má e, finalmente, o ilustrador.
13 – Quanto à «chama da mocidade»,
essa tanto podia acontecer à noite, num acampamento, como em fins-de-semana, no
próprio Centro, com a presença de amigos, familiares e alguns professores. E
até durante as tardes de Sábado, mesmo sem cavacos a arder, apenas entre a
rapaziada sentada no chão em círculo, como forma de ensaiar os cânticos colectivos
de índole bem portuguesa, e outros adaptados pelos próprios filiados. As
pequenas declamações individuais ou colectivas (jograis) que estiveram muito em
voga nos anos cinquenta, e até talvez antes disso. E as pequenas teatralizações
de um só acto, 10 a 15 minutos, com adereços e vestuário pouco mais que
improvisado. Mas era o espírito que contava. O espírito e o «animador» da chama,
essa figura incontornável. No fim havia chocolates para os melhores.
14 – Desde que me lembro de ter
começado a minha carreira na Mocidade, que recordo os jogos educativos e a
iniciação desportiva, um dos momentos mais apreciados das actividades
gerais. Quinas competindo com outras quinas e preparando-se para mais e melhor, ou seja, a especialização gimnodesportiva.
15 – Quanto ao livro de quina,
ainda hoje há quem o guarde quase religiosamente. Lá estão os amigos desses
tempos, muitos dos quais continuaram ao longo da vida. Os textos e gravuras
para o jornal, o que se conseguiu fazer para animar a «chama», os relatos dos
acampamentos, das provas de campo, e dos chocolates e pequenas medalhas ganhas
em competições entre quinas.
16 – Claro que vamos voltar a tudo
isto, «noutras colocações» que abordem mais especificamente os vários tipos de
actividades e os locais aonde tiveram lugar. Estamos, enquanto espaço, para
ficar e para crescer ao longo dos próximos anos.
II – TRANSCRIÇÃO PARCIAL:
A Missão dos Dirigentes, Marcello Caetano, 2.ª Edição, 1942
Reflexões & Directivas, pelo Comissário Nacional
A Missão dos Dirigentes, Marcello Caetano, 2.ª Edição, 1942
Reflexões & Directivas, pelo Comissário Nacional
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4.ª Parte – Os Centros e as Actividades
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Pág. 102 – Secção VI – As Quinas e o Livro de Quina.
Tem-se em muitos Centros cometido o
erro de considerar as quinas como simples «unidades tácticas» que se fazem e
desfazem conforme as conveniências de cada dia.
Erro enorme, esse!
A quina não é apenas um par de
fileiras de três filiados na formatura do castelo.
A quina deve ser a célula fundamental de toda a organização do centro.
Daí a necessidade de formar bons
chefes de quina.
E a necessidade, não menor, de
constituir as quinas cuidadosamente, no começo do ano lectivo, de maneira que
cada uma seja um grupo de bons amigos e camaradas ardendo no zelo de fazer
progredir o seu castelo e o seu Centro.
É o chefe-de-quina que deve escolher
os filiados da sua quina.
E, uma vez constituída, a quina há-de
permanecer sempre a mesma até ao fim do ano.
O documento da unidade da quina é o livro de quina. No livro de quina regista-se a biografia dos filiados que a compõem, a
sua actividade na M.P., a história da quina e a do castelo a que pertence.
Nele colaboram, sob a direcção do
chefe, todos os filiados, consoante as suas aptidões – escrevendo, ilustrando,
encadernando…
Um livro de quina bem ordenado e
mantido com carinho é meio caminho andado para conseguir estimular a actividade
da quina.
E se as quinas tiverem bons chefes,
coesão e entusiasmo, o castelo vai de vento em popa.
Um Centro cujos castelos trabalhem
bem, é um Centro cheio de espírito da Mocidade.
Já então se pode cultivar a boa emulação do trabalho, provocando o
despique entre as quinas e os castelos, organizando entre elas concursos e competições.
Por isso – atenção às quinas!
E não se desdenhe o livro de quina.